Minha primeira paciente

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A primeira paciente que atendi em psicoterapia na época de estágio, era uma pessoa muito sorridente, animada, que tinha uma visão otimista sobre as pessoas, num nível que até a atrapalhava, já que tinha dificuldades em falar não e expor seus limites em suas relações. Ela era o tipo de pessoa que eu queria ser amiga, já que era tão sorridente e alto astral.

No entanto, essa paciente tinha um passado bastante sofrido relacionado a um contexto de abuso e negligência por parte de familiares na adolescência, se você a conhecesse jamais diria que ela passou por tanta coisa assim.

Em contrapartida, anos depois, tive outra paciente que tinha por característica ser mais reclusa, não gostava muito de sair, preferia livros, era mais na dela, não tinha riso frouxo nem emana simpatia, mas era inteligentíssima, sabia falar bobagens na mesa do bar e também debater sobre política, religião, filmes e séries, era leal aos seus amigos mais íntimos, tinha um olhar racional, quase pessimista sobre a humanidade e assim como a minha primeira paciente da vida, ela também já viveu um contexto de abuso na infância/ adolescência. Talvez no caso dessa minha paciente as pessoas também jamais pensariam que ela sofreu algo tão intenso há tempos atrás, já que era uma pessoa que se comunicava e se posicionava tão bem, que expunha a sua opinião e seu limites de forma assertiva e saudável.

Percebam que são duas pessoas com realidade e características de personalidade distintas, que passaram por situações de abusos muito jovens, mas que esse trauma influenciou de forma diferente em ambas, uma se fechou para o mundo e durante um tempo teve uma dificuldade importante em confiar nas pessoas, em se abrir. Já a outra também não se abria, mas era dependente emocional das pessoas a sua volta, acreditava que precisava das pessoas por perto, pois não queria lidar com situações tão sofridas quanto teve que lidar quando jovem, pensava que não daria conta novamente e por isso aceitava migalhas de afeto.

Duas pessoas distintas, com histórias semelhantes que se passam pela sua vida, jamais teria ideia do que passou, por isso que independente de como essa pessoa se comporta, não pra saber o motivo (mas pode ter certeza que ele existe) e por isso não dá pra julgar, nem tampouco considerar sua atitude “errada” por ser reclusa, ou por ser “boba” dos outros.

Vamos olhar o outro como quem olha para o mar e seu horizonte, é uma imensidão e não sabemos o que tem em suas profundezas, por isso é preciso respeitá-lo, ter sabedoria ao navegar por suas águas, pois elas podem nos surpreender.

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